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Evo Morales quer expandir mercado da ‘coca legal’

May 17, 2007

Presidente da Bolívia quer aumentar o cultivo e a venda das folhas.
G1 visitou o mercado da coca de La Paz.

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Ele não deu nenhum golpe de Estado. Tampouco pensa em revolução. E apesar de ostentar um ideário esquerdista, Evo Morales, o ex-líder sindical dos cocaleiros bolivianos que chegou ao poder através de uma eleição democrática, quer um lugar na história de seu país com uma realização na área econômica: ele deseja ser conhecido como o presidente que instituiu um mercado para a "coca legal".

A "coca legal" é toda a produção de folhas de coca que não são usadas para a fabricação de cocaína – o entorpecente. Dessas folhas se faz chás e outros produtos alimentícios e farmacêuticos. Tradicionalmente, as folhas verdes também são mascadas, até como forma de aliviar os efeitos da altitude, em cidades como La Paz, a 3.600 metros do nível do mar.

No poder há quase um ano e meio, Morales já criou um departamento de industrialização da coca, vinculado ao Ministério da Agricultura, que será responsável pelo processamento futuro de 4.000 toneladas de coca somente em chá, segundo dados do governo. Outra atitude para fomentar a produção da planta foi o recente anúncio do aumento dá área legal para cultivo da coca – dos atuais 12 mil hectares para 20 mil hectares.

Sob o raciocínio de que coca não é cocaína, o governo boliviano diz que incentiva a "coca legal", mas que reprime com todas as forças a produção que se destina à fabricação de cocaína. Diz, inclusive, estar aumentando o combate ao narcotráfico. Cita um aumento de 14% na apreensão da droga em 2006, em relação ao ano anterior.

Os Estados Unidos, que há anos injetam milhões de dólares para reprimir as plantações, desconfiam -e reclamam dos planos de Evo Morales. Dizem que o país continua sendo o terceiro maior produtor mundial de cocaína. E que apenas cinco mil hectares seriam suficientes para suprir o mercado da coca legal na Bolívia -muito menos do que os 20 mil hectares autorizados pelo governo federal. Por esse raciocínio dos norte-americanos, parte do cultivo autorizado estaria sendo desviado para a produção da droga.

"A estimulação que se obtém com a folha de coca é comparável à de uma forte xíraca de café. Não há qualquer efeito narcótico", afirma Kathryn Ledebur, norte-americana que coordena, em La Paz, a Rede Andina de Informações, uma ONG (Organização Não-Governamental) comprometida com a proteção aos produtores de coca da Bolívia e declaradamente contra as políticas anti-drogas norte-americanas que visam a erradicação forçada da folha.

"É como se desejassem proibir o plantio de cana, ou do milho, por causa dos malefícios da cachaça", disse. "A plantação de coca é legal e é uma questão de subsistência, e sobrevivência, para milhares da famílias miserváveis bolivianas", completou.